sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Transporte público: discussão falida

Situação A:
A lanchonete onde você come frequentemente insiste em aumentar os preços de seus produtos. Em determinado momento, você decide mudar o ponto onde você se alimenta, pois os custos ficaram muito altos. Você tem a opção de comer em outro lugar. Você encontra um outro local, com preços que não ofendem o seu orçamento. 

Comer é um direito.


Situação B:
O ônibus que você usa para se locomover insiste em aumentar as tarifas periodicamente. Nunca há um reajuste para baixo. Não existem promoções nesse tipo de contrato. Você pensa na lanchonete, mas acaba percebendo que não há opções. Não existem outras empresas de ônibus dispostas a levar você por um preço menor. Se você não tem condições de adquirir uma moto, um carro, ou se a sua cidade não for pequena o bastante para que você se locomova sempre de bicicleta, você está encrencado. 

Transporte é um direito.


Sem o transporte, você não pode ir para os hospitais, para as escolas, para o trabalho, para a praia, para os parques, visitar sua vó, ir para a sua lanchonete preferida. Você se transforma em um pária.

O esquema (a conotação negativa cabe bem) de transporte público recifense, assim como o brasileiro, é um símbolo do capitalismo sem risco, arcaico, fraudulento e ineficaz que por vários séculos vigora em nosso país, e que tanto agrada nossos medíocres marajás. É um prêmio na loteria para os empresários do setor, que atuam sem temer qualquer prejuízo, sabedores que são das mamatas que o Estado os entregará com um sorriso e um tapinha nas costas.

É cansativo e deprimente assistir todos os anos a estudantes apanhando da polícia nos protestos contra o aumento das tarifas. Cansativo porque observamos a polícia em seu velho papel de aparelho repressor (ao mesmo tempo em que assegura os privilégios de uma elite econômica da qual ela não faz parte) e deprimente porque os movimentos estudantis (maioria do movimento) focam em um ponto de menor valor, a consequência, em lugar da causa. Os quinze centavos que nos cobram a mais hoje são apenas a faceta mais visível de um setor abandonado e entregue a bandidos que não tem compromisso algum com a função social do transporte público, se é que eles já ouviram falar disso algum dia.

Enquanto esse problema não for tratado em toda sua extensão, ficaremos a discutir o micro, a pequena política, o arremedo de cidadania. 

Continuaremos a discutir sobre centavos e a apanhar da polícia.

PS: Lembro que postei um texto há exatos doze meses e seis dias, com teor bastante semelhante.
S.

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